Reflexão sobre Teologia

Neste dia de Natal gostaria de compartilhar com vocês alguma coisa a respeito da Teologia Cristã Protestante. Pois Teologia no seu sentido mais puro é “assunto a respeito de Deus”. Fato é que todas as pessoas em todo lugar, em qualquer época, tem sua teologia, quer reconheçam isso quer não.

Não é meu objetivo aqui, esclarecer neste dia de Natal, se Jesus nasceu ou não nessa mesma época, ou o que significam os símbolos e datas que vieram a estar ligadas ao Natal. Quem sabe faço isso em outro momento. Meu objetivo aqui é incentivá-los a terem uma fé racional, que sabe os fundamentos bíblicos e históricos que professam. Não tenciono ser exaustivo nesse pequeno escopo, mas quem sabe, contribuir um pouco para que nossa geração esteja mais bem informada a respeito da fé e da história da Teologia da Cristandade.

A primeira coisa a dizer é que o surgimento Histórico da Teologia não foi especulativo ou porque não tinham mais o que fazer. A teologia surgiu por uma necessidade de defender o Cristianismo Bíblico e Autêntico das heresias e cismas que os sectários faziam depois da morte dos apóstolos. Todo Concílio que houve desde então foi feito com o propósito de dirimir disputar e voltar à fé bíblica.

A segunda coisa a se dizer é que as pessoas interessavam-se pela Teologia no dia a dia. Um dos pais capadócios chamado Gregório de Nissa, grande defensor da Doutrina da Trindade, escreveu: “Se a gente pedir um trocado, alguém irá filosofar sobre o Gerado e o Não-gerado. Se perguntar o preço do pão, dirão: O Pai é maior e o Filho é inferior. Se perguntar: O banho está pronto?, dirão: O Filho foi criado do Nada”. Gregório certamente não estava reclamando do envolvimento de cristãos comuns nas disputas teológicas. Seu tom de queixa é porque a maioria dos leigos daquele tempo parecia simpatizar com a posição ariana ou semi-ariana que rejeitava a igualdade entre Jesus, o Filho e Deus Pai. Como em muitas outras controvérsias doutrinárias antes e depois daquela, tanto leigos como líderes eclesiásticos e teólogos profissionais encontram-se ativamente envolvidos no debate sobre crenças cristãs corretas. As crenças tinham importância e devem continuar tendo agora. [1]

No entanto o pensamento dominante é o relativismo cada um tem uma verdade. O foco primordial hoje é o pragmatismo e aquilo que funciona. O grande problema aqui, nesse caso, é que o que era verdade, fora da Palavra de Deus, no passado pode não ser verdade para outros amanhã; e aquilo que era funcional para gerações passadas podem não ser funcional amanhã.

A terceira coisa a se dizer a esse respeito é que a Teologia é o terreno da nossa defesa racional contra ataques céticos e descabidos; ou seja, a Teologia está intimamente ligada a Apologética.

Por que não adoramos imagens? Quem estuda iconoclastia responderá. A resposta bíblica é “Pois Deus nos ordenou dizendo: Não farás para Ti imagens de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima, nos céus, ou embaixo, na terra; ou nas águas, embaixo da Terra” (Êxodo 20), mas por outro lado, argumentam os católicos romanos e ortodoxos orientais, que as imagens não são adoradas, mas apenas uma lembrança de santos piedosos que com suas vidas os estimulam. Aí entra o ramo teológico da Apologética. Responder-se-á que um grande defensor para tal prática foi João Damasceno no século VIII, e que antes de tal data não havia tal pratica na Igreja Cristã.

Responder-se-á ainda que os iconoclastas argumentavam que o uso de imagens na Igreja limitava a natureza divina de Cristo e traria uma divisão de duas unidades conflitantes em Cristo, sendo por isso condenada.
Outra razão nos é dada por Moisés, porque não adotamos imagens no culto cristão: “Então o Senhor falou a vocês do meio do fogo. Vocês ouviram as palavras, mas não viram forma alguma; apenas se ouvia a voz”. (Deuteronômio 4:12)

O apóstolo Pedro escreveu para a Igreja o seguinte: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” (1 Pedro 3:15). Sabe-se que o texto poderia muito bem ser traduzido assim para o português: “Estejam sempre preparados para fazer apologia da esperança que há em vocês”, pois a palavra “razão” do texto de Pedro nada mais quer dizer que apologia ou defesa racional da fé.

A quarta coisa a se dizer é que a Teologia tem seus contornos. Explico; Os grandes teólogos não ficavam fazendo perguntas idiotas; hoje mesmo vi uma pergunta numa rede social como “Jesus vivia no Judaísmo ou no Cristianismo?”. Bom, é idiotice ou no mínimo perda de tempo estudar um assunto desses com tanta heresia em nossos dias precisando ser corrigidas dentro da própria Igreja. Por que não se preocupar com coisas mais sérias?

Os grandes teólogos não ficavam discutindo “quantos anjos conseguem dançar na ponta de um alfinete?” [2] Eles discutiam coisas das quais eram necessárias respostas, pois o alicerce bíblico estava ameaçado.

Faz-se necessário dizer também que a Teologia tem vários ramos, cito apenas quatro:

 ◘ Teologia Natural – Tenta unir Filosofia e Religião para dirimir conflitos
 ◘ Teologia Sistemática – Aborda temas teológicos em toda a Bíblia (salvação)
 ◘ Teologia Bíblica – Aborda um assunto bíblico em um único Livro Bíblico
 ◘ Teologia Histórica – Aborda como surgiram as doutrinas na História

A quinta coisa que gostaria de dizer que a Teologia é serva da Piedade e não o contrário. Muitos têm fogo no coração, mas não tem iluminação na mente, e quando a iluminação vem (quando se entra no Seminário ou se começar a ler a respeito) a tendência é diminuir o fogo (a piedade). Não deve ser assim. Devemos como diz o Dr. Martin Lloyd-Jones “ter fogo no coração e iluminação na mente”.

Por último gostaria de dizer que há vários níveis de teólogos.

O filósofo e teólogo R. C. Sproul faz a seguinte afirmação: “Nenhum cristão pode evitar a teologia. Todo cristão é um teólogo. Ele pode não ser um teólogo no sentido técnico ou profissional, mas ainda é um teólogo. A questão não é ser ou não ser um teólogo, mas se somos bons ou maus teólogos”.
Partindo desta afirmação criaremos um leque teológico que vai desde a “teologia popular” até seu oposto a “teologia acadêmica”.

1º Teologia Popular - A teologia popular é baseada simplesmente na crença não refletida, é uma fé cega que costuma valorizar a tradição, liderança e todo tipo de afirmação religiosa sem ao menos se questionar se aquilo é realmente reflexo do que as Escrituras ensinam.

2º Teologia Leiga – Quando se começa a questionar os mitos e lendas da Teologia Popular em busca da Verdade e Base Bíblica para tanto.

3º Teologia Ministerial - A fé refletida por ministros treinados e educadores nas igrejas cristãs. Costumam utilizar todo tipo de ferramenta disponível para estudar, basear sua fé e adquirir sabedoria para utilizá-la na igreja. Esses tem conhecimento básico de idiomas bíblicos ou pelo menos habilidade no uso de concordâncias, comentários, software relacionado às Escrituras, além de um conhecimento razoável de perspectiva histórica acerca do desenvolvimento da teologia no transcurso da história do cristianismo, inclusive pensamento sistemático perspicaz apto a reconhecer inconsistências entre crenças e a estabelecer a coerência entre um item da fé e outro.

4º Teologia Profissional - O primeiro é alguém cuja vocação requer extrema habilidade com as ferramentas utilizadas pelo teólogo ministerial. Estes mestres buscam arrancar os cristãos do pensamento popular formando neles a consciência crítica. Os métodos utilizados por eles são, publicações de livros e artigos, palestras, oficinas e até mesmo um método ministerial: a pregação.

5º Teologia Acadêmica – Aqueles que se aprofundam em Universidades, Colégios, Seminários, doutorados etc.

Gostaria de incentivá-lo a ser um teólogo ministerial. Aquele que guia a Igreja pelo caminho correto, que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2:15). Prepare-se para responder a cada um que pedir razão da esperança que há em vocês. Um abraço!



[1] História da Teologia Cristã – 2.000 anos de tradição e reformas – Roger Olson, pág. 17 – Editora Vida, 2001
[2] História da Teologia Cristã – 2.000 anos de tradição e reformas – Roger Olson, pág. 15 – Editora Vida, 2001

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